LIÇÕES DE OLFATO
Revista OSMOZ

LIÇÕES DE OLFATO

01 december 2012

 

São Paulo está sendo palco de aulas que têm o olfato como o sentido principal para um público bem definido. Trata-se da primeira turma do curso “Avaliação Olfativa para pessoas com Deficiência Visual”, na Fundação Dorina Nowill (FDN).  A especialista em perfumes Renata Ashcar, à frente do projeto, fala sobre a experiência.

 

Como surgiu a ideia do curso para deficientes visuais?

Partiu da empresária Tania Bulhões que, em parceria com a Fundação Dorina Nowill (FDN), conseguiu viabilizar o projeto. A intenção dela era oferecer aos deficientes visuais um aprendizado artístico que pudesse gerar uma oportunidade de trabalho, de inclusão social.  A escolha da área de perfumaria se deu porque o mercado brasileiro está superaquecido e ocupa hoje o primeiro posto em consumo no mundo, segundo dados do Euromonitor. O suporte da FDN foi fundamental para viabilizar o projeto.

Quais são os temas do curso e a carga horária?

O eixo tecnológico é a Avaliação Olfativa e a carga horária total é de quase 600 horas, distribuídas em um ano e meio entre aulas praticas, teóricas e estágio.  Entre os temas abordados estão história da arte e da perfumaria, sua evolução, linguagem, famílias olfativas, os principais ingredientes, marketing, comunicação e, claro, avaliação olfativa e sensorial.

Como foi o processo de seleção dos alunos?

Para a primeira turma, foram selecionados 10 alunos que terminarão seu curso em dezembro de 2012. Estamos selecionando mais 10 alunos que deverão iniciar suas aulas em setembro deste ano e, a cada 6 meses, abriremos novas turmas, sempre de 10 alunos no máximo.

Que perfumistas estão envolvidos no projeto?

Eurico Mazzini, hoje perfumista da Drom, é o responsável pelo ensino de perfumaria, além de outros colaboradores, como as avaliadoras olfativas Claudia Consentino (Firmenich), Luciana Knobell (Givaudan) e Ana Luisa Siqueira (Mane), e especialistas, como Valeria Grossman e Fabio Navarro.

Vocês já têm algo concreto em relação a empregar essa mão de obra?

O interesse existe e foi junto com as principais casas de fragrâncias que montamos a grade curricular, cuja validação pretendemos que ocorra tão logo os alunos da primeira turma iniciem seu estágio. Há ainda algumas barreiras para que possamos estabelecer uma justa remuneração e a melhor forma de os alunos ingressarem nas empresas, burocraticamente falando, mas temos certeza de que isso em breve estará bem definido.

O método de ensino teve de passar por adaptações?

Com o suporte da FDN fomos muito bem amparados e confesso que tem sido um grande aprendizado para mim, uma vez que Power Point não é mesmo a linguagem (risos). Tive de buscar novas formas de ensinar e, neste ponto, tudo que é sensorial funciona maravilhosamente bem. Parte da metodologia foi discutida com a própria Tania, os docentes e as empresas por meio da coordenadora pedagógica do curso, Rejane Padovani. O projeto piloto sofreu ajustes, mas percebemos que o melhor método de ensino é cheirar, cheirar e anotar muito! O fato de serem deficientes visuais só conta pontos a favor, pois a visão não interfere na avaliação olfativa. Por terem o olfato mais apurado, o desenvolvimento desse sentido com o treinamento intensivo é super proveitoso.

Quem cedeu o material de estudo e é parceiro no projeto?

Tivemos o apoio das principais empresas de fragrâncias, que nos cederam matérias primas e também das principais marcas, que rechearam o nosso acervo com cerca de mais de 500 perfumes diferentes. Outros parceiros nos ajudaram com os materiais para as aulas. Conheço muitos lugares no mundo voltados ao ensino da perfumaria, mas nenhum como o nosso!

Fale um pouco sobre a experiência dos alunos com filmes e perfumes.

Foi incrível! No curso, os alunos ouviram uma audiodescrição do filme O Perfume e depois conheceram um estojo com 15 cheiros que representam as cenas...  Muito enriquecedor, já que o filme retrata muito bem a cidade de Grasse, berço da perfumaria, os vários tipos de métodos de extração de ingredientes naturais da época, além do rico relato sobre o olfato.

Você tem levado os alunos a eventos a atividades externas?

Essas atividades tem sido fantásticas! Quando envolvemos os outros sentidos nas aulas, os resultados são muito bons. No mercado central, houve degustação de vários ingredientes usados na perfumaria. Visitamos o Jardim Botânico, onde a professora Alessandra Marangoni explanou in loco sobre várias plantas, seus ingredientes aromáticos, os métodos de extração. Na visita ao Espaço Perfume Arte & História, os alunos puderam vivenciar a interatividade do museu. São experiências únicas!

 

*Fundação Dorina Nowill para Cegos: Rua Doutor Diogo de Faria, 558 – Vila Clementino, São Paulo – SP.

[email protected]

Tel. 11 5087-0959.

 

Bel Ascenso

Bel Ascenso

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Jornalista especializada em beleza, colabora com várias revistas femininas, como Elle e Estilo, revistas customizadas, sites e blogs de beleza. Meu primeiro perfume Calèche, de Hermès Meu perfume preferido Mais que um... Light Blue, de Dolce e Gabbana/L’Eau d’Hadrien, de...

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